19 de agosto de 2012

o álbum

A foto enquadra uma praia quase vazia, de ondas tranquilas e morros ao fundo. O sol está alto e uma nuvem grande se espalha pelo céu. De um lado, a faixa de areia estreita deixa ver os ilhotes da beira e do outro é só o mar. Consigo te imaginar por trás disso, segurando a câmera, de pés descalços, camiseta branca e uma bermuda qualquer.

Mudar pela vontade de nadar, e não poderia haver lugar melhor, porque piscinas não são nada perto do mar. A imensidão azul até o fim. E mergulhar, literalmente ou não, como se as ondas pudessem levar as dores para longe do continente, como se no momento em que se bota o pé na água a vida ficasse na areia.

Olha para mim sério, escorado na parede, a cabeça levemente inclinada. A barba, grande, cobre o queixo e parte das laterais do rosto. Ele sabe o que faz. Não é como os meninos que deixam crescer de qualquer jeito e acreditam ter mais cara de homem por isso. E a diferença é sutil e tão clara ao mesmo tempo: alguma coisa no semblante, na maneira como ele sustenta o rosto. Quando a barba não suja ou estraga a face, esses são os homens.

Não é como se eu fosse uma deslumbrada, que nunca ouviu palavras bem ditas ou que se apaixona por frases bonitas, que nunca esteve frente a frente com quem vale a pena. Mas naquela tarde eu encontrei um eco para o que existe de melhor em mim. Quem acredita na mesma coisa e da mesma maneira e sabe que, sem trazer a imaginação à realidade, a vida seria outra, pobre e vazia.

Segurava o bebê no colo não sem jeito, mas um tanto compenetrado, como se virar o rosto pudesse causar um desastre, e aquela coisinha, que cabia inteira nas duas mãos, poderia se partir ao menor descuido. Olhava para ele, os dois de olhos fechados, e a mãozinha pequena e rosada tocava a barba logo acima.

Como não notar o silêncio? Eu me acostumei a passar dias e até semanas sem falar, mas quando existe alguém que, em uma ocasião, quebra essa rotina, é impossível não perceber. Só pode ser por isso que algumas pessoas prezam tanto a solidão: porque quando ela é quebrada, mesmo que só por uns momentos, fica difícil voltar.

Um pedaço de céu ao fundo e os morros a perder de vista. O verde e a paz e o vazio que às vezes faltam. Um lugar para viver. E não ser nada além do que somos - só nós e nós mesmos. E na outra o perfil em meio à sombra, em preto e branco. Talvez olhando pela janela, talvez encarando o nada. O rosto dele é a personificação do carinho e olhar para o rosto dele é estar em outro lugar.

Tu nunca vai ser mais bonito do que agora. Nós nunca mais estaremos aqui.
E nessas fotos te amo tanto que não sou capaz de dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário