22 de maio de 2013

o metrô

E o que fazer com as palavras acumuladas?
É uma cidade viva. Há gente na rua a todo momento, indo e vindo, uns com pressa outros com o andar de quem não precisa se preocupar com o tempo, talvez nem tragam relógios no pulso. Mais convidativas que as milhares de lojas postas lado a lado nas ruas estreitas, as praças, espaçosas e espalhadas, chamam os transeuntes. Há sempre uma praça entre o próximo amontoado de prédios. E algumas ficam tão escondidas que surpreendem quando finalmente descobertas, aqueles passos a mais à esquerda, um corredor suspeito que parece não levar a lugar nenhum e lá está. Os bancos em todas as quadras, as árvores em todas as ruas, os nomes bonitos das estações de metrô, também espalhadas, também sempre próximas.
O próximo trem na Estação Sol. Sol na cidade. E, longe do sol, andar de metrô é inexistir por alguns minutos. Uma viagem de metrô é um intervalo no tempo. Sentados, passageiros fora do mundo entre a estação de origem e a de destino. É ali, no ponto em que céu, terra, deuses e mortais se encontram. Quando se deixa de existir e se existe para o nada. Há uma música contínua que marca a passagem do tempo, que leva em direção ao futuro, como a vida deve ser. Não por acaso nenhuma vida volta atrás para viver de novo. E quando a música silencia, e o tempo perde o ritmo que antes possuía, e a perspectiva já é outra ou igualmente se perdeu, onde o mundo parou é impossível saber.
Visivelmente, ninguém espera descobrir nada. Essas figuras sentadas, elas não estão ali de verdade. Mas trazem no rosto aquele desejo calado: eu não espero mais nada, mas por favor que algo aconteça. Como quando entra, numa estação qualquer, o homem de preto que distribui fitas de todas as cores aos passageiros. Em vez de palavras, fitas coloridas: vermelhas, azuis, rosas, verdes, amarelas, roxas, laranjas. Ele me olha nos olhos e me sorri um sorriso de silêncio.
Então o trem passa sob uma montanha de águas cristalinas que escorrem em uma cascata infinita. Cruzando a montanha, é possível ver pelas janelas outras diversas janelas, no interior das quais estão mesas vazias com taças de vinho abandonadas pela metade. Não há ninguém. Todos já foram embora ou talvez nunca tenham existido.
O problema do tempo é que o tempo passa. Foge com todas as coisas que poderiam ficar, que poderiam ser. Mas nenhuma história jamais será o que poderia ter sido. O homem não compreende o tempo, que num repente cria ilhas onde nenhuma ilha seria capaz de existir.
Preciso de tudo tão mais de perto, me ouço dizer, venha para casa. Maravilhosa como qualquer outra jamais será, a cidade surge outra vez no fim das escadas da mesma estação do sol. E o sol está lá também. Que o céu exista, embora meu lugar seja o inferno.