2 de setembro de 2011

o velhinho

Eu gosto muito do velhinho da banca da esquina. Não sei o nome dele, mas já comprei a Zero Hora ali algumas vezes, quando me foi estritamente necessário ter uma Zero Hora em mãos. Eu queria conhecê-lo. Queria ser uma das pessoas que ele cumprimenta quando passa, que diz "bom dia, seu fulano". Daquelas que param pra conversar, um papinho rápido, uns cinco minutos talvez. E comentar as amenidades da vida e do dia-a-dia.

Vai chover, sempre chove, esse clima de Porto Alegre. Como tá frio, um calor desgraçado. E os políticos desse país que não têm arrumação, só querem dinheiro e mais dinheiro, e a gente. A gente aqui, né, todo dia. E o grêmio? Bah, o Inter? Esses times não têm jeito, né. São uns mortos. É.

E depois a vida seguiria. O meu trajeto até o prédio e o horário dele de fechar. Talvez eu passase antes ainda no mercado pra comprar uma coca. Quem sabe um vinho. Ou um chocolate. E pão e carne. Dependendo do dia, eu poderia até pagar de saudável e comprar maçãs e tomates. Mas normalmente eu passaria reto: direto pra casa, direto pro banho, direto pra cama.

Enquanto ele, quem sabe? Iria pra casa, onde a mulher estaria esperando com a janta. Ou talvez fosse jantar na casa de um dos filhos e ver o neto, aquele guri danado, sete anos, recém começou o colégio.

Não sei. Não sei o nome do velhinho.

Mas eu gosto mesmo é de vê-lo arrumando os jornais quando passo por ali. De manhã cedinho, antes do trabalho, e no fim do dia, na volta pra casa. Outra vez, quando passei de manhã, ele ria. Um outro senhor, rindo também, trazia na coleira um golden retrivier alaranjado, lindo, que saltava alegre na direção de duas meninas. Pulando, o cachorro ficava quase maior do que eles. E ambos davam gargalhadas. Bom humor de manhã deve ser a minha única qualidade, mas possivelmente seja uma das muitas dele.

Ontem eu passei e a banca tava fechada. Não sei o nome do velhinho.