9 de junho de 2019

às vezes


Às vezes é preciso buscar. Às vezes no caminho de volta para casa. Às vezes durante o expediente ou olhando pela janela do ônibus. Antes de dormir.

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Dificilmente envolve sexo. Nem mesmo beijos. É mais uma cumplicidade. Almas que se reconhecem.

Caminhamos juntos, olhando para a copa das árvores acima de nós. Conversamos. Rimos um com o outro. Discutimos livros e escritos. Sentamos lado a lado, nossas mãos em um carinho leve. Ou de costas um para o outro, escoro mútuo. Lemos. Andamos na beira da praia, os pés na água. Olhamos o mar. Sentimos o vento. Somos o vento. Céu e sal. Pegamos um ônibus. Acordo primeiro e vejo ele dormir. Volto a dormir em seguida. Ou o contrário. Ele levanta e passa o café. Sentamos na varanda para beber. O dia nos enche. Gostamos do cinza.

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Às vezes quando ele vira o rosto ao me ver e finge que não estou ali. Às vezes quando sorri sem jeito. Às vezes quando me conta uma história qualquer.

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É o mundo dele. E é o meu. E os dois se encontram e dão origem a esse algo indefinido que não sabemos bem onde colocar.

- O que a gente é? – ele me pergunta, olhando para frente.

Eu não sei.

- E o que a gente faz com isso? – eu pergunto, olhando para ele.

Ele também não sabe.

E continua olhando em outra direção. Quando ele busca meus olhos, sou eu quem desvio. Nossos mundos implodiriam nesse encontro.

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Às vezes quando entro no chuveiro e fecho os olhos e inclino a cabeça para a frente e sinto a água caindo sobre os meus ombros. Às vezes ao acordar de um sonho. Às vezes esperando as plantas absorverem a água.

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O prazer de se sentir insignificante diante do mar. A vida é aqui, embora não haja tempo.

Somos infinitos – e existimos sempre como potencialidade de tudo o que não fomos e não seremos. Eu sinto, ou quero imaginar que sinto.

O universo em nós. Viagem com a alma. A água que nos cerca, nos envolve, nos preenche. A essência da existência em três parágrafos.

- Me deixa chegar mais perto.

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Às vezes folheando as páginas de um livro. Às vezes passando os olhos pelas palavras que já escrevi. Às vezes quando sou obrigada aceitar que nada disso é real.

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Todas as vezes.

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