Às vezes é preciso buscar. Às vezes no caminho de volta para
casa. Às vezes durante o expediente ou olhando pela janela do ônibus. Antes de
dormir.
***
Dificilmente envolve sexo. Nem mesmo beijos. É mais uma
cumplicidade. Almas que se reconhecem.
Caminhamos juntos, olhando para a copa das árvores acima de
nós. Conversamos. Rimos um com o outro. Discutimos livros e escritos. Sentamos
lado a lado, nossas mãos em um carinho leve. Ou de costas um para o outro,
escoro mútuo. Lemos. Andamos na beira da praia, os pés na água. Olhamos o mar.
Sentimos o vento. Somos o vento. Céu e sal. Pegamos um ônibus. Acordo primeiro
e vejo ele dormir. Volto a dormir em seguida. Ou o contrário. Ele levanta e
passa o café. Sentamos na varanda para beber. O dia nos enche. Gostamos do
cinza.
***
Às vezes quando ele vira o rosto ao me ver e finge que não
estou ali. Às vezes quando sorri sem jeito. Às vezes quando me conta uma
história qualquer.
***
É o mundo dele. E é o meu. E os dois se encontram e dão
origem a esse algo indefinido que não sabemos bem onde colocar.
- O que a gente é? – ele me pergunta, olhando para frente.
Eu não sei.
- E o que a gente faz com isso? – eu pergunto, olhando para
ele.
Ele também não sabe.
E continua olhando em outra direção. Quando ele busca meus
olhos, sou eu quem desvio. Nossos mundos implodiriam nesse encontro.
***
Às vezes quando entro no chuveiro e fecho os olhos e inclino
a cabeça para a frente e sinto a água caindo sobre os meus ombros. Às vezes ao
acordar de um sonho. Às vezes esperando as plantas absorverem a água.
***
O prazer de se sentir insignificante diante do mar. A vida é
aqui, embora não haja tempo.
Somos infinitos – e existimos sempre como potencialidade de
tudo o que não fomos e não seremos. Eu sinto, ou quero imaginar que sinto.
O universo em nós. Viagem com a alma. A água que nos cerca,
nos envolve, nos preenche. A essência da existência em três parágrafos.
- Me deixa chegar mais perto.
***
Às vezes folheando as páginas de um livro. Às vezes passando
os olhos pelas palavras que já escrevi. Às vezes quando sou obrigada aceitar
que nada disso é real.
***
Todas as vezes.
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