13 de fevereiro de 2010

a janela nova

Os vizinhos da frente trocaram uma das janelas da casa. Notava-se a madeira nova, crua - sem tinta e sequer verniz -, apenas lixada, em contraste com as demais, todas velhas, pintadas de forma tosca por um marrom descascado nas partes mais manuseadas e batidas. A nova janela, dotada de uma beleza singular que apenas a simplicidade - a rusticidade - pode conhecer, suscitava nele, deitado na rede na varanda de sua própria casa, uma curiosidade quase infantil. Por que havia sido colocada ali? O que acontecera com a anterior, a velha? Seriam cupins? Alguém a quebrara? Não havia como saber. E, no entanto, ali estava ela, a nova janela, encarando-o do outro lado da rua, com seus vidros e abas abertos, sua cortina branca fechada em balanço com o vento, seus donos sumidos em algum lugar no interior da casa. Quem eram seus donos? Não havia como saber. Ele não conhecia seus vizinhos. E, no entanto, ali estavam eles, em algum lugar no interior da casa. Era possível ouvir suas vozes, mas não era possível distinguir o que diziam. Na varandinha, muito pequena, descansava silenciosa e vazia uma cadeira de diretor, vermelha. O que fazia ali? Não havia como saber. E antes que ele pudesse continuar a divagar, a cortina branca da janela se abriu. Foi aberta por alguém que não mostrou o rosto e que logo desapareceu novamente no interior da casa. Na parede ao fundo, branca, lisa e suja, próximo à porta, velha como as outras janelas, um espelho. Do outro lado da rua, então, ele pôde enxergar sua rede refletida. Mas não seu rosto.

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