26 de fevereiro de 2010

fim

Costumavam gravar coisas um para o outro. Às vezes um cd, às vezes pequenos vídeos ou partes de filmes, às vezes trechos de livros ou poemas lidos em voz alta. A voz dela era suave e baixa, mansa. A dele, grave, mas macia, acalentadora. Era tão mais fácil somente ouvir. E era tão mais fácil ouvir as palavras que eram de outros e não deles. A realidade não é complacente com casais que se pensam apaixonados. A ficção é até demais. A mistura das duas era gostosa. Um dia, então, as gravações e toda a tecnologia foram quebrados por um pedaço de papel passado por debaixo da porta. Uma folha de caderno velha contendo toda a sutileza de que só aquela mulher seria capaz com palavras. "Eu ainda não ouvi todas - ainda não! -, mas parece que você sempre sabe do que eu vou gostar. Parece que sabe que vou gostar de me apaixonar por uma banda qualquer, passar um mês sem ouvir outra coisa e, depois, deixá-la ali, ocupando espaço, e ouvir de quando em quando."

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