Sempre me deixa assim: em suspenso.
Era uma das preocupações que eu tinha – não precisava gostar
da pessoa, mas tinha que pelo menos me sentir à vontade. Claro, eu poderia
procurar outro lugar, mas só de pensar na função. Torci para ser alguém
“normal”.
No dia que cheguei, ainda não tinha me apresentado, vi de
longe. Ok, é uma pessoa legal. Não acontece sempre, mas a gente simplesmente
sabe, às vezes. Vemos a pessoa e sabemos que é uma boa pessoa, que vamos nos
entender.
Só não sei quando começou a ser mais do que isso. Mais do
que alguém que estava ali. Mais do que alguém que não me fez querer ir embora.
***
Minha vontade era de falar. Mandar uma mensagem agora e
contar o que aconteceu. A gente cria uma versão da pessoa e de repente é o
único ser no planeta, ou pelo menos o primeiro, com quem queremos dividir uma
notícia boa.
Nunca tive nenhum motivo para isso, eu bem sei. Nenhuma
indicação, nenhuma indireta, nenhum movimento, nenhuma fala que desse a
entender nada. Era só essa sensação.
De que todas as escolhas que fizemos nos trouxeram até aqui
para que nos encontrássemos. De que esse encontro foi mais do que uma
coincidência. De que o que temos em comum deveria ser motivo para sermos mais
do que duas pessoas que se encontraram por acaso.
***
Me deixo levar. Me deixo permanecer em suspenso. À espera de
algo. Enquanto os dias passam. Sem qualquer promessa.
Às vezes é só isso: o bruto sono da realidade. Lost in
translation. Pessoas se encontram e desencontram todos os segundos sem que isso
signifique nada. O que significa encontrar uma pessoa? Nascemos com olhos que
querem ver mais.
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