13 de novembro de 2014

o vão

Você se pergunta como diabos pode pensar tantas coisas em um espaço de tempo tão curto. E se a gente se encontrasse no caminho, e se ficássemos sozinhos no fim do dia, e se quando ele olha olha pelo mesmo motivo que eu, e se fosse pra ser com quem seria. E cada se se desenrola em uma história que nunca chega a ter fim porque umas se misturam com as outras e a vida pausa a imaginação até que no próximo momento de distração tudo comece outra vez.

Desiste. Pensa em outra coisa. Inventa outra história, outra pessoa, não é como se nada disso fosse viável. Ah, mas é justamente esse quê podre de realidade que dá sabor à fantasia. No fim das contas, só o que você quer é acreditar em possibilidades. Inocente. Sabe de nada.

É vão e existe um vão entre nós. De palavras, de espaço, tempo, silêncio, desejo. De repente um nada que surge, percorrendo cada centímetro de músculos, ossos, veias, órgãos. Como um buraco negro, sugando tudo ao redor sem aviso. Batimentos acelerados porque de longe ele sorri.

Chove. Chove muito. E quando para e o céu volta a ficar calmo e o sol de novo nos olha lá de cima as coisas em verdade não mudam.

Todos os dias, as horas. À espera de um sinal, de um olhar, de um gesto que diga: vem. Uma rota que pudesse distorcer todos os demais caminhos. Uma brecha que alterasse o curso de nossas vidas, desde o fim do último século até o que hoje é presente. Se o tempo é relativo, uma fenda qualquer a nos guiar.

Mas nossos dados e linhas não se cruzaram a tempo. Todas as horas imaginando o que poderia ser estão fadadas a ser tempo perdido. Se você olha pela janela não há nada além de uma réstia de céu, mas se olha para o lado lá estão: todos os seus sonhos, todo o seu amor, toda a vida devir.

Se você pudesse ter um desejo realizado agora, qualquer coisa, o que seria?

Feitos para nunca ser. E as palavras ali, incansáveis a te encarar. Ou é você que, incansável, as encara incansavelmente? Obrigada por dividir comigo. Obrigada por dividir comigo a vida. Um soco no estômago. Que vida miserável.

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