Que talvez não aconteça.
"Eu odeio a arquitetura desse lugar."
Do meu lugar, talvez quisesse dizer. Desses lugares. Cheios de atmosferas hostis, carregados de segredos excludentes, impregnados de sorrisos estonteantes. Uísque, por favor. Preciso de um pouco de uísque. O rádio canta e eu tenho sonhos de nunca mais voltar e no entanto permaneço. Preso nos dias vazios, estendidos no varal, no sol quente, no tempo previsível. Preciso de algo forte, que me mantenha em pé ou que me afogue em ressacas e horas intermináveis de sono. Das tardes com sabor de deserto basta o gosto amargo na boca. A pele oleosa. As traças nas paredes. Eu trago o fado das ideias escondidas, das palavras fugidias e das frases não lidas. Trago o descaso do arredor, o desgosto dos meus atos e um andar de fantasma. Vagando pelas ruas despercebidas despercebido, em meio à diversidade de rostos ocupados e olhos desconfiados. Na cidade alucinada, na torcida da vitória. Nesse antro de incertezas, eu espero pelo certo. Que deve despontar em um dia qualquer, de nuvens normais, quando eu abrir as janelas. Deixa tudo aberto, deixa o ar circular. O balanço das cortinas e o vento ocupando o teu lugar nos cômodos. E mesmo com o ar renovado não se renovam as sensações. E mesmo as belezas e as risadas de verdade não me seguram o bastante e não garantem de mim o desejo de ficar. Nessas ruas; de sobrados pobres, de calçadas sujas, de esquinas tortas e paredes rachadas, de cores ausentes. As sacadas altas que me gritam para ir embora. Os contentes e descontentes que me expulsam sem gritar. Eu sou o homem errado no lugar certo. Eu sou as ideias certas na cabeça errada. Eu sou a ausência de asas. Eu sou a insatisfação injustificada. Eu sou a ingratidão. Eu sou a insegurança, a indecisão e o medo. Eu sou o céu estrelado da praia. Eu sou o ar do interior. Eu sou a gota de chuva solitária. A estética feia. Eu odeio a arquitetura desse lugar.
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algum trocado sempre perdendo os trocados para quatro e trinta e seis!
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