Meia hora se passou sem que eu dissesse uma palavra.
Ela estava esperando, contudo. Por algo. Um sinal. Um começo. Um ruído
qualquer. Um fio de história que ela pudesse puxar.
Nada.
- Não tenho mais o que dizer.
Meus olhos encaram o vazio.
Tenho vontade de rasgar o fluxo do tempo e desfazer
todas essas distorções. Calar todas as bocas. Interromper todos os pensamentos
e o curso de uma vida que não é a vida certa. Que mundo é esse em que todas as
distopias parecem plausíveis?
Elenco desgraças desejáveis e assisto aos absurdos que
desfilam ao meu redor. Não tenho ânimo de me insurgir contra nenhum deles. Ela
esperava mais de mim. Ela sabe que eu poderia mudar tudo por nós duas e por
isso a mágoa.
- Por que você não faz nada? – me pergunta.
Eu não sei.
As ondas do tempo explodem, os dias se repetem, um
segundo substitui o outro. Estamos em um carrossel ou em uma roda-gigante –
qualquer coisa que gira sem sair do lugar. O mundo passa diante de nós e do
alto podemos ver o horizonte. A borda de um buraco negro é chamada de horizonte
de eventos.
Desço e caminho, mas por mais que eu ande há sempre um
limite, uma barreira que não consigo ultrapassar.
- Sozinha eu não vou conseguir – digo a ela.
- Você sabe que não pode contar com mais ninguém – ela
retruca – somos só nós.
- Eu sei.
- Não é exatamente estar sozinha.
Quando no fim da tarde o céu muda de cor, as primeiras
estrelas despontam para nos lembrar: o que vemos não existe mais. Olhar para o
céu à noite é enxergar o passado. De frente, nos olhos. São as estrelas os
olhos do passado. Outros mundos foram possíveis, outros mundos ainda serão.
Já não falo com mais ninguém. Desapareço todos os
dias: em meio a uma vida que não é minha, em meio a palavras que não são
minhas. Meu é o silêncio, minha é a solidão.
- Até onde vamos com isso? – pergunto.
Ela sabe, mas não responde.
Qualquer que seja o final, o carregamos conosco desde
o começo. Trazemos a morte no peito no momento em que viemos à vida. Eu só
queria mais tempo para conversar. Para descobrir os mundos que se perdem em
reuniões, séries, mensagens virtuais e vídeos efêmeros. Um dia para exibir um
fragmento inútil de vida. Somos feitos de fragmentos e assim nos apresentamos
ao mundo. Ninguém vê nada.
Sete bilhões de pessoas. Todas paridas por uma mulher.
Na rua, a vida segue – à margem de tudo.
- Vai ser assim até o fim.
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