Repito as palavras porque tudo o que dizem se repete na vida. Palavras que surgem para lembrar que nada se manteve. Que, de tudo aquilo em que já depositei minha fé, nada sobreviveu. Ao tempo, a sentimentos ambíguos, a mim.
Meus olhos tão verdes quanto jamais alguém poderia ver. Porque são as lágrimas e não os sorrisos que intensificam a cor. Brilham no escuro, onde ninguém é capaz de enxergar. E o que eles veem tampouco é dado aos outros que vejam: imagens de um rosto familiar, de uma felicidade breve, de segundos rápidos demais.
Não são os meus olhos os procurados nem meus os lábios que, de longe, alguém tenta perceber se se movem. As luzes nos envolvem em um tipo especial de silêncio, que só se manifesta para aqueles que sabem ouvir. Embora não vejamos um ao outro, nossos olhos se encontram. Em silêncio e ruído. Num momento que só acontece uma vez. Nos segundos que antecedem o movimento das pessoas ao redor, que se mexem em dança e mudam toda a configuração da multidão. Uma linha invisível une nossos olhares, mas o que eles enxergam é difícil dizer.
Ver às vezes é demais. Sentir poderia ser dispensável. Não há necessidade de resgatar coisa alguma. E não importa quantas pessoas estejam presentes - é sempre muita gente e ninguém ao mesmo tempo. Se todas as palavras fossem repetidas agora - para mim e não por mim - só haveria uma resposta possível. Em qualquer lugar, a qualquer hora.
Nunca fizemos promessas, porque promessas não feitas jamais podem ser rompidas, mas antes tivéssemos feito. De nunca nos deixarmos ir. Porque só é possível ser quando somos ao mesmo tempo. Porque a felicidade só é possível quando dividida em um abraço que não deveria ser o único.
Quando já não vale a pena ver, vemos. Quando não há mais espaço para sentir, sentimos como nunca antes. Vagando à espera de uma palavra apenas, sem a chance de se refazer ou acabar. Não há nada além de bares fechados, chuva fina e luz mórbida nos postes. Diante de palavras repetidas, repetir o amor em voz alta. Até que se desfaça em sons e perca o significado. Como acontece com as palavras.
12 de novembro de 2015
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