- Essa semana não dá. E na verdade nem nas próximas porque estou me mudando.
- Pra onde? - é tudo o que consigo verbalizar.
Não faz diferença. E naquela noite sonhei com esse mesmo diálogo. Um convite pendente em uma história pendente - eternamente sombra e assombro. Indo e voltando, como se não fosse nada. Somos inevitáveis.
E eu, que já desconfio da minha capacidade de raciocinar, sento e espero. Por um movimento do ar, pelo encontro com meu fantasma. Numa esperança incorrigível de tentar, de dar à vida tantas chances quantas forem necessárias. De dizer sim.
- Vamos acabar logo com isso.
Em noites de insônia, quando não é possível escapar de si mesmo. Eu penso e imagino e sonho. Uma enxurrada de tudo. Até dormir outra vez. Para acordar e fingir que nada aconteceu.
Queria dizer que não posso mais. Fazer isso comigo mesma enquanto ele sequer se mostra capaz de considerar o que eu sinto. Queria dizer que não mereço isso - mereço alguém digno de mim, digno de ocupar esse lugar em um coração que depois dele não soube amar mais ninguém. Queria dizer que esses anos todos pensei - e se eu dissesse, e se eu tentasse, e se nos encontrássemos agora. Esses anos todos eu pensei em como nos conhecemos no momento errado. Queria dizer que mudei. Que cresci. Que aprendi a ser independente e estou começando a tomar conta da minha vida em cada vez mais aspectos. Queria dizer que queria a companhia dele. Que queria rir de novo. Porque ninguém mais entende o meu senso de humor. Ou as coisas que eu leio e ouço. Só ele foi capaz de ser essa metade torta que de algum modo encaixou em mim. Queria dizer que ficaria feliz em tentar. Em estar lá pra ele outra vez. Queria dizer que sofri como nunca pensei que fosse capaz de sofrer. Mas que isso me fez tão melhor e mais forte. Queria dizer que chorei e ainda choro. Enquanto escrevo. E ouço a voz dele. E o teclado. Queria dizer o que tantas vezes imaginei. Queria dizer que sou tão falha quanto é possível ser e que às vezes também não tenho certeza. Queria dizer as coisas que não sou capaz de escrever.
Talvez o amor tenha se esgotado em alguma curva do caminho. Talvez esteja tão vivo quanto antes e apenas não saiba para onde ir, porque nenhum de nós está perto o suficiente. Eu sento e espero. Por um movimento do ar. Por quanto tempo é possível esperar? Por quanto tempo é possível não mudar?
O alarme toca. Eu não dormi e tampouco posso fingir que nada aconteceu.
2 de agosto de 2015
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