4 de janeiro de 2012

a noite e o dia seguinte

Te deixar ir e na porta te perguntar mais uma bobagem pra te segurar na minha frente mais um instante como quem diz fica, fica porque eu te amo. Não soltar o abraço. E pegar na tua mão e fazer o caminho de volta até o sofá e depois o quarto. Deixa, deixa a noite e a madrugada, amanhã é outro dia e agora nós merecemos. Um o outro, apenas. Esses rostos envelhecidos não dizem nada, fazem lembrar que o tempo é cruel e a vida não vai nos poupar. Eu quero passar o dia na cama outra vez, discutindo o almoço até as quatro, perder o sábado, perder o tempo. O tempo é cruel. Vem, me esquenta embaixo do edredom no inverno e acaba com o que me restar de consciência. E inocência. Que dessas coisas eu já tive demais e a vida já é tão séria, carrancuda nos esperando no portão todas as manhãs. Quero esquecer contigo. E fazer planos sem necessidade de cumprir, mas pela necessidade de fazer. Pelo gosto de nos imaginar pintando paredes e discutindo onde colocar o sofá, o indispensável. Vem arquitetar comigo um futuro qualquer pra nós dois. Mas vem agora porque eu não quero ter tempo nem ocasião oportuna pra reconsiderar. Tantas coisas eu reconsidero e abdico em prol de nada. Em detrimento de nada. Como se a nada fosse que o tudo se resumisse. Meu tudo talvez seja pouco e talvez não seja o suficiente pra mim, mas tem o tamanho certo. Chega de madrugada, me liga sem avisar. Olha pra mim e vê as palavras que eu não digo. Vê quando eu te olho que nos meus olhos tem amor, que não tem lugar nem hora nem rosto, só toma forma e permanece. Quero passar a mão nos teus cabelos, te ver voltando pra cama no escuro, deitar no teu peito e te sentir respirar. O ar entrando e saindo em contínuo. Como encher cadernos com coisas aleatórias que de repente vieram à cabeça. E depois reler e enxergar que as poucas e as muitas coisas mudam simultâneas, que nada se pode fazer. Como varrer as calçadas e ver a sujeira acumular-se para depois desaparecer: pra onde vai? - pra onde foi? Me dá um beijo e esquece. Olha a noite comigo do terraço, as janelas iluminadas dos outros prédios e o céu cheio de estrelas prometendo sol no dia seguinte. O dia seguinte é só uma promessa. Vem agora.

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