Talvez buscar inspiração nos sonhos fosse sabotagem, enganação. De onde vieram aquelas imagens todas, de rapazes passando por perto, de envolvimento, de conversas sem nexo? Não é propriamente criação, mas ainda sai de dentro. E não importa, afinal, de onde vêm as histórias, mas como elas são contadas. Ou se são contadas, dados a vergonha e o receio. De quê?, elas perguntam. Mas quem sabe de que se tem medo.
Saíra mais uma vez sem se despedir. Cada aceno no portão trazia as mesmas incertezas, históricas, de quando vamos nos ver de novo e de será que voltaremos a nos ver. Não era o tchau antes do fechar da porta, esse não tinha a menor importância. Eram o adeus, o fim e o não te levo a sério que chegavam atrasados e já não confortavam ou valiam qualquer coisa. Os olhos nos olhos, para quem poucas vezes olha nos olhos, fazem-se soberanos justamente quando inexistentes. Soberanamente ausentes.
A ausência soberana regada e acompanhada pela falta de reação. Agora, então, é sério? Nós não iremos sentir mais nada, nem dor, vazio ou tristeza e solidão, até a próxima vez em que nos virmos de novo embriagados de afeto e apego? Que são raros ao mesmo tempo em que demandam apenas poucos minutos para existir. E eu respondo que sim, embora não saiba a resposta, porque é o meu desejo.
A vontade é intrínseca, incomoda todos os dias enquanto não satisfeita, e a inspiração é alheia. Externa, vem das palavras de quem é vizinho desconhecido. Mas, um traço em comum, escrevemos. As palavras não ditas seguirão não ditas. E permanece qualquer coisa não descrita.
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