Minha vida é diferente da sua. É, pode apostar. Eu sei que você não acredita, porque tem seus próprios problemas e, afinal de contas, quem não os tem? Não se preocupe, eu conheço bem as pessoas e os mecanismos que regem seus atos e seus pensamentos e não hei de julgar ninguém por subestimação. Sei que, para cada um, a própria vida é maior que as demais. E como pensar de outro modo? Dar-se conta de que a nossa vida é só uma no meio das outras e que ela nada tem de importante e relevante pode ser fatal. Mas não para mim. Eu disse que minha vida é diferente. Eu vivo em lugares diferentes - dia por dia. Posso voar sem ter asas. Tenho todo o conhecimento à minha disposição de graça e a qualquer hora. Tenho idéias e as escrevo na ilusão de que não se percam - mas eu as tenho. Vejo longe. Vejo dentro desse organismo que chamamos de cidade. Minha cama nunca é a mesma da noite anterior. Só minhas roupas se mantêm. Carrego a vida em uma mochila velha ao redor de um lugar que eu nunca conhecerei por inteiro - embora possa conhecê-lo sem sair da calçada. Minhas mãos tocam paredes e troncos de árvores e bancos de praça que milhões de outras já tocaram, e isso me põe em contato com aqueles que nunca conhecerei. Tenho inteligência e capacidade para muito mais, para quem sabe ser rico, mas escolhi o outro lado. Assim, as pessoas passam por mim e fingem não me ver. Algumas sentem pena, em seus caminhos de volta para casa, enquanto divagam sobre a desigualdade do mundo, mas sem saber que aquele a sentir pena sou eu. Pena da pequenez. Da falta de visão em vidas que, não fosse isso, seriam tão promissoras. Você agora pensa em quanto sou imbecil e arrogante, talvez. Mas eu repito: não hei de julgá-lo. Porque você e outros tantos seus semelhantes são a prova de que eu necessito. São meu meio de saber que estou certo. E vocês passam por mim todos os dias. Provam-me todos os dias a veridicidade do que penso sem dizer uma palavra, sem dar um passo fora da linha imaginária que seguem. Eu morri para você. E morri também para o mundo e para as outras pessoas, mas continuo vivendo. E, no dia em que eu morrer de verdade, eu ainda continuarei vivendo.
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Do clube.
15 de junho de 2010
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